terça-feira, 29 de julho de 2008

Os cantoneiros

Eram indivíduos, funcionários públicos, que tinham por função manter as estradas nas melhores condições possíveis. Tapavam buracos, limpavam as bermas, pintavam os marcos de sinalização e quilometragem... no inverno colocavam areia sobre o gelo, que se formava nas curvas onde menos penetrava o sol, a fim de tentar evitar a existência de despistes.
Estabeleciam-se grupos específicos, de cantoneiros, para uma determinada secção de uma precisa estrada, pela qual eram responsáveis na sua limpeza, conservação e necessária reparação.
Tinham uma roupagem singular... chapéu de abas semi-largas, arredondado no topo, vestimenta tons cinza azeitonada e/ou acastanhada e botas de ensebar.
Recordo o sr. Manuel Fernandes, de Cimo de Alvém (onde residia), cabo dos cantoneiros, e o seu respectivo grupo. Muitas vezes faziam paragem na taberna do meu avô, para descansar um pouco e beber qualquer coisa.
Normalmente trabalhavam em grupo de dois ou três elementos, às vezes quatro.
A sua actividade era coordenada pela Junta Autónoma das Estradas, que possuía as denominadas casas dos cantoneiros, que serviam para dar guarida aos mesmos, e de armazém para as suas ferramentas e demais utensílios necessários ao seu labor.
Existia uma casa dos cantoneiros na Póvoa (Cerdeira), onde chegou a morar um outro cantoneiro de igual nome, ou seja Manuel (esta casa era utilizada por um outro grupo), que mais tarde casou no Esporão e por lá acentou residência...
Apesar das imensas críticas que lhes eram dirigidas, questionando o seu esforço e a capacidade no desempenho do seu trabalho... temos de concretizar que não era nada fácil, andar ao sol e ao frio (conforme a época do ano), naquele serviço.

foto de Gonçalo Lobo Pinheiro (EN2 - Entrada para Carvalhal-Miúdo, Julho de 2008)

2 comentários:

Anónimo disse...

O meu avô era precisamente esse tal outro Manuel, que vivia com a familia na Póvoa da Cerdeira...
Bela memória esta, das antigas profissões. Esta, entre outras, revela quão importante era a manutenção do património - as valetas e as estradas num brinco eram o seu orgulho. É o que recordo do carácter do meu avô... Hoje tudo é feito com mais máquinas e menos amor.

Anónimo disse...

Marisa,
Grato pelo seu comentário... O sr.Manuel que era o seu avô, é de uma geração diferente ao do outro sr.Manuel, de Cimo de Alvém, que eu conheci. À hora de almoço, em conversa com os meus pais, verifiquei que conheço é o seu pai, o sr. António (que negociava em carnes). Lembro-me quando ía Carvalhal-Miúdo, "tratar da saúde" a uma cabra ou uma ovelha dos meus avós... recordo o tom peculiar da sua voz, tom grave.. é uma das muitas pessoas que estão na minha admiração de criança e da adolescência. Sei que permanece entre os vivos, e faço votos que por muitos anos. É assim... os anos passam. E esses anos não podem ser abatidoa à contagem real. Os meus pais também já vão sobrevivendo com algumas dificuldades... muitas vezes eu já ando para aqui com umas "dorzecas", são 52.
Agradeço, uma vez mais, as suas amabilidade e simpatia.
Cumprimentos
António M.R.Martins