sexta-feira, 4 de julho de 2008

O milho, a farinha de milho e a broa

O milho era parte integrante na agricultura dos nossos antepassados, nestas aldeias. Era preponderante, e um ano com produção de muitos alqueires era fundamental. Do milho, após moagem, "nascia" a farinha, que tinha imensas aplicações, entre as quais o fabrico do pão desta serra... a broa.
Todavia até chegar a essa fase, ter-se-iam de passar por muitas outras...
Tudo começava com a preparação da terra, lavrando-a e cavando-a, a preceito, fazendo-se a sementeira a seguir (meados de Março). Quando a planta começava a fervilhar, procedia-se à sacha e ao seu arrendado (retirar ervas daninhas e acamar a terra). Depois tinhamos o desfolhar (as folhas colocavam-se ao sol, a secar, e depois de secas eram empalhadas, enleiradas e guardadas, em palheiros para alimento do gado), um tempo depois, a planta era despontada (o tirar da bandeira e da barbela) e mais tarde era retirada a espiga, que era levada para o palheiro, para posteriormente, se proceder ao seu escapelar (descamisar).
Nesta fase, as pessoas das aldeias costumavam-se juntar, auxiliando-se umas às outras e em reuniões nocturnas fazia-se esse trabalho, acompanhado de cânticos, contar de estórias e anedotas (lembro-me ainda de algumas escapeladas no palheiro do Cabeço). Aí separava-se a maçaroca (espiga) da palha envolvente e quando se encontrava uma espiga de milho-rei (milho vermelho) era uma festa... abraços e mais abraços.
Seguidamente tinhamos o debulhar e/ou o malhar e, depois, de todo o grão estar solto procedia-se à sua secagem em eiras, ou em terrenos calcados, ao sol.
De Carvalhal-Miúdo os donos do milho transportavam-no em sacas, às costas, para o moínho no Porto Ribeiro, junto ao Rio Ceira para proceder à moagem. Depois de moído, o milho já em farinha, retornava, pela mesma via, da mesma forma, e era guardada em arcas.
A farinha era consumida durante o ano, para os animais (galinhas, misturada com restos de couves, pele das batatas, etc.) e para a alimentação (papas de milho diversas, com sardinha, enchidos...), para fazer a broa.
A farinha, neste caso, era peneirada, amassada, fermentada e ficava a tendar... depois fazia-se a broa, ía ao forno a lenha e aí cozia. Em tempos de festas também de confeccionavam as bolas (tipo de broas recheadas com sardinhas, bacalhau, cebola, enchidos, carne...).
E a broa que a minha avó fazia era tão boa!...

foto de António Martins (Despontar do milho - Courela das Loisas - anos 70)

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bom o texto. E a foto. Mais um documento das histórias das nossas aldeias.