segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O porco... vizinho por um ano

Era assim... comprava-se o porco (ainda leitão) numa feira, ou num mercado qualquer, e ao longo do ano engordava-se, para nos meados do outono se proceder a sua matança...
Era instalado sempre muito perto da habitação do dono, por vezes por baixo da mesma (assim era com os meus avós), ou ao lado (mas haviam excepções), na denominada quintã. Era alimentado diariamente (daí a sua localização perto da casa, para se encontrar mais acessível), com restos vegetais diversos, farinhas, pedaços de abóbora (em miúdo, tinha o hábito de lançar abóboras inteiras para o animal comer, e a minha avó ficava sempre zangada... Que "tás" a fazer menino? Não deites comer para o suíno!... Ai o teu avô se vê o que "tás" a fazer, catrino!...) e outras iguarias.
Periodicamente a "cama" onde o porco se deitava, ou seja o mato por onde andava e fazia as suas necessidades fisiológicas, era substituído e reposto por outro novo, apanhado para o efeito.
A comida era colocada numa maceira em pedra... cada "curral" tinha duas, uma para os sólidos outra para os líquidos, a água (muitas destas peças são hoje aproveitadas, após limpas e preparadas, para serem colocadas em muitas casas rústicas, para servirem de lavatórios).
O tempo passava, e chegados ao mês de Novembro (normalmente), procedia-se à sua matança...
Em Carvalhal-Miúdo, os meus avós, chamavam muitas vezes o sr. António, do Esporão, para a fazer (existiam outras pessoas, habilitadas para esse procedimento), mas teria de ter o auxílio de mais dois ou três homens, para segurar o animal, que por aquela altura era já de grande porte e com poder físico substancial.
Após à matança, o porco era estendido numa mesa, elaborada para a situação, e era chamuscado, para se queimarem todos os seus pelos. Posteriormente era pendurado e aberto para se lhe extrairem os diversos tipos de carne. Uns íam para a salgadeira, para serem consumidos durante o ano, outras para o fumeiro (caso dos presuntos)... aqui ficavam, também, os enchidos, mas neste caso teria de haver uma preparação mais elaborada (lavagem das tripas, colocação no seu interior da carne adequada, em conjunto com alguma parte mais gorda, respectivo têmpero e após serem cosidas, com linha especial, iriam passar pelo percurso necessário até poderem ficar penduradas no fumeiro).
O dia da matança do porco, era um dia de festa nas aldeias. O dono do animal convidava muita gente, a família comparecia... da carne retalhada, alguma era frita e comida nesse dia (a torresmada fresca, era belíssima), a cabeça do animal (a cachola ou cacholeira), no dia seguinte. Enfim, eram dias muito especiais estes, os da matança do suíno...

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