quarta-feira, 18 de junho de 2008

A videira, as uvas e o vinho

A nossa região nunca foi, propriamente, uma potência na produção de vinho, como são o Alentejo, a Bairrada, o Dão, o Douro ou a Zona Oeste da Estremadura, quaisquer que sejam os seus tipos e castas, mas sempre existiu empenho no cultivo e manutenção da vinha nestas aldeias.
Era normal, em volta dos terrenos (courelas) ser introduzida a vinha, que era devidamente cuidada pela poda anual, a fim de se preservar a sua qualidade e vitalidade, e em meados de Setembro proceder à vindima. As uvas seguiam para adega, eram misturadas (as brancas e as pretas, muito raramente alguém produzia vinho branco), pisadas pelos homens com seus próprios pés (mais recentemente, foram adquiridas máquinas que faziam esse trabalho por trituração, via manivela movida manualmente), fervia, passando por diversas etapas. Uma delas era a sua passagem por vinho doce (que muitas vezes se utilizava como remédio para a prisão de ventre...) e depois de estar no ponto era separado do cardaço (este era levado para o fabrico da aguardente, onde, para o efeito, ía queimar ao alambique) e colocado em barris, devidamente fechados, para acamar e deixar que o frio por ele passasse para o dotar de uma melhor qualidade.
O vinho na nossa região nunca atingiu muito grau. Era bastante saboroso, normalmente com um leve pico (muitos produziam o denominado vinho morangueiro, obtido a partir de uma uva especial que facilmente despegava a sua pele do conteúdo... um pouco como se faz aos tremoços, quando os comemos a acompanhar uma imperial... e tinha a característica de ser muito doce), e bebia-se muito bem tendo como resultado disso uma imensa vontade de urinar, sendo, portanto, assaz diurético...
Quando o ano era bom para a uva (essa conclusão tinha muito a ver com tempo que tinha feito, ao longo do ano, e do trato que havia sido dado às videiras) os habitantes destas terras tinham vinho em casa para todo ano. Às vezes a produção suplantava-se, mas também existiam anos negativos.
Hoje, no que concerne a Carvalhal-Miúdo há pouca uva. Motivado pelo êxodo dos seus habitantes, por todos os motivos: - Abandono, falecimento, emigração ou simplesmente impossibilidade de continuar a dura faina nos campos.
Parece que ainda sinto na boca o paladar do vinho do meu avô...

foto de António Martins (Só falta o vinho... - Carvalhal-Miúdo, Cimo da Sebe, Setembro 2007)

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