domingo, 21 de junho de 2009

As férias da minha juventude...

Como eram passadas as férias no tempo da minha juventude...
Referindo as aldeias de Ladeiras e Carvalhal-Miúdo, por serem os berços de meu pai e minha mãe, era nelas que mais tempo passava, com relevo para Carvalhal-Miúdo, pois lá dormia, na casa de meus avós maternos.
Sempre gostei mais desta aldeia. As Ladeiras fazia lembrar-me um pouco o ambiente citadino, não porque se pudesse comparar, mas pelo maior movimento... tinha estrada nos seus contornos, passavam muitos carros nessa estrada (a antiga estrada nacional 2, que tinha interligação entre Chaves e Faro, dizia-se... mas nunca cheguei a compreender como era esse desiderato), tolhendo, um pouco, a nossa expansividade. Em Carvalhal-Miúdo o espaço circundante, refletia-se como amplo e totalmente livre, sentia-me diferente quando estava naquele lugar, onde podia interiorizar mais, meditar, oscultar a natureza observando a sua natural vida. Gostava de desbravar esse mundo... ver as formigas nos seus carreiros, ver as outras, as maiores, que muitas vezes caminhavam soltas, ír no encalce do grilo que cantava junto à entrada do seu buraco na terra repleta da verdura, ver as aves que pelos campos de soltavam e transmitiam um estado de vida fora do âmbito das cidades (onde também haviam formigas, baratas, aranhas e pássaros, obviamente... mas tudo era muito diferente). Os gafanhotos saltavam à nossa frente, o louva-a-Deus permanecia estático, no cimo de um pequeno ramo, movimentando suas pernas dianteiras, o pica-bois, o escaravelho, a joaninha, as moscas (essas é que não eram tão bem recebidas, pela mordidelas, continuas, provocadas em nossas peles...), e tantos outros habitantes naturais daquelas terras, que aqui poderia registar...
Depois... era o ar, a paisagem, a frescura da água, o cheiro incomparável da terra (e quando húmida, era inolvidável), a beleza intrínseca que revelava todo aquele contexto, naquele tempo.
Nas férias, por vezes, tinha a companhia do António (do cimo da sebe) e do Delmar, neto do casal Neves, donos da faustosa casa do fundo do lugar, hoje totalmente em ruínas. Faziamos caminhadas até ao rio Ceira, junto à ponte pedonal para Cortecega, ao moínho, à Mioteira, à Barroca, aos Sobreiros, ao Vale da Fonte, à Abiceira, e a tantos outros recantos daquelas paragens.
Recordo ainda no tempo da minha prima "Lena", solteira, em que eu e minha irmã a acompanhávamos na guarda diária do gado e nos juntávamos à "Mila" (hoje a residir no Esporão), irmã do António (atrás referido), à Silvina (última residente de Carvalhal-Miúdo a lá nascer (creio...), que só mais tarde casou, com outro António, que na altura cumpria o serviço militar, na Marinha Portuguesa) e às brincadeiras que se faziam naqueles espaços de tempo, onde se cantava, se contavam anedotas, etc..
Algumas vezes também acompanhei o meu avó, quando ele ía para o campo com as ovelhas, mas ele não apreciava muito, pois dizia que eu as tornava inquietas e muitas ocasiões as espantava. Se calhar tinha toda a razão.
De tudo isto, ficam as recordações (que já não é pouco...), por todos esses momentos que foram vividos...

foto de António Martins (Descendo pela Ramalhuda... Carvalhal-Miúdo, Setembro de 2007)

2 comentários:

Adriano Filipe disse...

Bom dia amigo António
Mais uma vez, este seu texto leva-me a passear a Carvalhal-Miúdo.
Forma escrita fabulosa de contar histórias,faz-me viver toda a narrativa,com muito interesse...a referência ás pessoas e lugares da aldeia que também me são familiares, é bom ...muito bom.
Se me for permitido,dar uma modesta opinião,ao seu modo de escrever,ás vezes assemelha-se o mesmo ,a um escritor neo-realista,Alves Redol.
Obrigado amigo por estes momentos de leitura.
Continuar será a palavra de ordem!
Um abraço
A.Filipe

António Martins disse...

Amigo Adriano,

Agradeço a sua visita e comentário, mas não exagere... Alves Redol é um consagrado. Todavia estou-lhe, humildemente, grato pela observação.

Abraço
António Martins

P.S. - Espero estar para a semana nas nossas aldeias, com os meus pais. Não dá para andar para aqui e para ali, com eles, mas vamos lá ver como correm as coisas. Quero tirar umas fotos para fortalecer as publicações neste blogue. Em princípio será de Terça-Feira (dia 30) a Sábado ou Domingo (dia 4 ou 5 de Julho).