quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A venda do meu avô (Ladeiras)

Retrocedendo no tempo, venho recordar como era a venda do meu avô quando eu era criança. Tudo era diferente na oferta daquele tipo de comércio, na época (de igual modo, embora com estruturas e grandiosidade díspares, era diferente esta actividade no que concerne à forma de comercializar este tipo de produtos, nas mercearias das vilas e cidades).
Os açúcares (branco e amarelo) vendiam-se a peso, tal como a farinha, o feijão (nas suas diversas espécies). Existiam cartuchos de cartão de diversos tamanhos que correspondiam aos conteúdos específicos e pretendidos pelo cliente, conforme a porção que era pedida o produto era introduzido no cartucho adequado e que podia conter o peso dessa quantidade.
Também o azeite, os óleos, o vinagre eram vendidos avulso (1/2 l; 1l; 1 1/2l, etc.). Normalmente o cliente trazia o seu próprio vasilhame para o produto que queria comprar e pedia para encher, ou por qualquer outra capacidade, que nele coubesse.
A marmelada, as manteigas e as banhas também eram vendidas consoante a necessidade do cliente, o mesmo acontecia com os queijos.
No que se refere à mudança do aspecto do estabelecimento, para os dias de hoje, não é substancial, de todo, mas o conteúdo da loja é que era totalmente diferente. Por trás do balcão das mercearias (quando entramos, do lado direito), onde estava colocada uma balança de braços, havia uma grande vitrana, feita de diversas portas envidraçadas e por baixo os diversos depósitos (cubas), com os açúcares, farinhas (trigo e milho). Muito gostava de levantar a tampa onde estava o açúcar amarelo e meter uma bolinha do mesmo à boca, era uma delícia (muito diferente do de hoje, tinha um supremo paladar). Para a esquerda, sobre umas fragas que incorporam o deslizar do solo, que sustenta a base da casa, até ao sólido chão da loja, haviam umas prateleiras inseridas em móveis abertos, que serviam de montra e onde se apresentavam muitos tipos de produtos, desde os tabacos, fósforos, cadernos escolares, lápis, borrachas, etc.
Virando-nos mais para a esquerda tinhamos um outro balcão, perpendicular aos das mercearias, que era para a zona de taberna, propriamente dita. Ali se vendia o vinho ao copo, aguardentes, licores, sumos, laranjadas, pirolitos, gasosas e, obviamente, oferecia-se a água dos Lameiros. O balcão das mercearias era revestido a madeira, enquanto que o da parte das bebidas tinha o seu tampo em mármore. Havia também uma grande balança no sólo para se pesarem grandes pesos. Existiam três mesas (uma grande e duas pequenas), nelas os clientes podiam-se sentar a beber os seus copinhos e a comer os seus petiscos. Quanto aos petiscos poderiam ser torresmos, carapaus em molho de escabeche ou fritos, petinga frita, peixe do rio, queijo, marmelada e havia sempre uma sopinha à moda da região para quem quisesse, para além do pão (escuro e claro, por vezes a broa).
Quando começava a anoitecer ainda era tudo iluminado a candeeiros de petróleo.
Por cima da loja era a habitação e nos anexos subjacentes existiam currais, arrecadações, palheiros, etc.
Ai que saudades daqueles soberbos paladares e dos espectaculares e frescos aromas...ainda não existia a ASAE.

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