domingo, 13 de julho de 2008

Idalina, das Ladeiras

...Não era, propriamente, uma peixeira (embora vendesse peixe), é que ela só vendia uma espécie... a sardinha. Portanto, era uma sardinheira!
Havia uma outra característica na sua apresentação e que lhe era peculiar... enquanto que as pessoas que andavam de canastra à cabeça, na faina da venda do peixe, colocavam o seu produto sob frescos vegetais (gelo não poderia ser, porque rapidamente derreteria... e quando iniciou a sua actividade seria coisa que não haveria por estes lados da serra), ela punha as suas sardinhas em cima de fetos, na sua canastra.
Era uma mulher muito animada, quando na companhia que lhe surtisse esse efeito (tinha o seu feitio, quando se aborrecia... mas isso qualquer um tem...), e possuia, apesar de tudo, um determinado carisma. Mãe solteira, vivia com imensas dificuldades para sustentar seus filhos, tendo de fazer pela vida, por essas aldeias da serra, na venda da sua sardinha, incluindo a "sui-generis" petinga, que foi ao longo de muitos anos o pequeno-almoço, senão o almoço, destas gentes que viviam do labor diário, nos seus campos.
Exerceu esta actividade pelos anos 50 aos anos 70.
Adorava o seu "copito" de vinho, que bebia, até, para matar a sede...
E contam, que um belo dia terá apostado que seria capaz de beber o conteúdo dum garrafão de cinco litros (em vinho), a acompanhar o simples chupar de um caroço de azeitona... não sei se terá ganho essa aposta?!...
Mas que foi uma personagem relevante para estas aldeias, lá isso foi.
Recordamo-la, hoje, com a inerente saudade!...

1 comentário:

Guidinha Pinto disse...

Ai a Ti Idalina, lembro-me tão bem dela, a vender as sardinhas no fundo do lugar da Cerdeira... A canastra forrada de fetos, com as sardinhas tapadas com fetos também. Como era esperada, naquele tempo em férias com a minha avó, e sem frigorífico (frigorífico? nem electricidade quanto mais frigorífico) havia sempre tempo para o tal copito, que ela bem merecia para lhe matar a sede. Que boa é a lembrança desta senhora das Ladeiras. Eu era uma miúda, mas lembro-me muito bem desta personagem da vida real com rodilha e canastra à cabeça.
Bonita estória a sua.